(Bloomberg) -- Dezenas de terapias genéticas que reparam trechos do DNA estão perto do lançamento, podendo eliminar doenças fatais da infância, males raros do sangue e outras enfermidades graves. Mas o potencial de cura vem com uma ressalva: ninguém sabe quanto cobrar por esses tratamentos.
Essas novas terapias atacam a causa das doenças com uma dose única, que introduz material genético correto nas células do paciente. Se puderem substituir remédios que são tomados durante a vida inteira, essas terapias têm possibilidade de reduzir o gasto total com a doença, mesmo se custarem alguns milhões de dólares. Mas a perspectiva de preços tão altos já causa incômodo.
"Entre os que arcam com despesas de saúde, a maioria ainda não teve experiência com isso e nós precisaremos apresentar novos modelos, especialmente porque há tantas terapias dessas a caminho", disse Vas Narasimhan, presidente da Novartis. "É preciso que o sistema consiga se adaptar."
Para a gigante suíça, uma opção seria o pagamento parcelado. Este é o plano para oZolgensma, medicamento contra uma doença muscular devastadora que deve receber aprovação das autoridades em breve.
Outras companhias farmacêuticas também apostam que terapias genéticas terão grande impacto sobre os pacientes e os lucros. No mês passado, a Pfizer celebrou uma parceria com a Vivet Therapeutics em torno de uma medicação contra uma rara doença do fígado. O órgão que regula alimentos e remédios nos EUA (Food and DrugAdministration ou FDA) espera aprovar até 20 tratamentos genéticos e celulares por ano até 2025. Ainda não se sabe se essas terapias conseguirão manter os resultados impressionantes ao longo do tempo, o que dificulta os cálculos.
Preços razoáveis são essenciais para que esses tratamentos revolucionários cheguem a pacientes que tanto precisam, de acordo com Steven Pearson, presidente do Instituto para Revisão Clínica e Econômica, uma entidade sem fins lucrativos que elabora estudos que influenciam o debate sobre gastos com medicamentos nos EUA. Se os preços forem baixos demais, as farmacêuticas podem investir menos. Mas se forem exorbitantes, os gastos podem sobrecarregar os sistemas de saúde.
O Zolgensma, da Novartis, é um teste para esse novo segmento. O tratamento contra atrofia muscular espinhal aguarda decisão das autoridades reguladoras dos EUA. Analistas do UBS Group calculam que vai custar cerca de US$ 2 milhões e será o primeiro tratamento nos EUA a custar múltiplos milhões de dólares. Já o Instituto para Revisão Clínica e Econômica, sediado em Boston, apresentou um relatório em fevereiro mostrando que o valor poderia variar de US$ 1,5 milhão a apenas US$ 310.000. A Novartis, por sua vez, focou em métricas diferentes sugerindo que o valor poderia chegar a US$ 5 milhões.
O instituto afirma que o custo do Zolgensma "precisa ser menor do que o preço hipotético de US$ 4-5 milhões que a fabricante sugeriu ser justificável".
Parcelamento
A alternativa ao Zolgensma é o Spinraza, feito pela Biogen, que as vítimas de atrofia muscular espinhal tomam durante a vida toda. Segundo a Biogen, há mais evidências de que sua medicação ? lançada nos EUA dois anos atrás ? funciona, mas a Novartis argumenta que já tem quase cinco anos de dados sobre o Zolgensma. O custo do Spinraza ao longo de uma década chega a US$ 4,1 milhões.
O plano de parcelamento da Novartis distribuiria o custo ao longo de cinco anos, explicou Narasimhan. A companhia também deve oferecer reembolso se o paciente morrer ou o se tratamento falhar durante o período.
"Pedimos pagamento durante cinco anos e então zero", disse ele. "Pense no valor do remédio que continua mantendo crianças vivas. É enorme."
Outras empresas avaliam esquemas para espaçar pagamentos. A Bluebird Bio informou que até 80 por cento do custo de sua primeira terapia genética pode depender do desempenho ao longo do tempo e que o preço não vai passar de US$ 2,1 milhões.
"Se chegarmos ao ponto em que essas terapias estarão disponíveis não só para doenças raríssimas, mas para populações de pacientes, preços na casa de milhões de dólares não serão sustentáveis de maneira alguma", disse Nick Crabb, diretor de assuntos científicos do Instituto Nacional para Excelência em Saúde, que presta consultoria para o governo britânico sobre gastos com medicamentos. "É importante que a gente entenda isso."
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