Terapias gênicas: avanços e desafios no Brasil e no mundo

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Imagem de Gerd Altmann por Pixabay

 

A terapia gênica avança rapidamente

 

by Mônica Tarantino | Medscape

 

Dos 40 medicamentos aprovados até 2022 por agências regulatórias de vários países, cerca de 75% foram liberados para uso a partir de 2016. “Estamos em um momento intermediário. Temos ainda poucos medicamentos disponíveis, mas a tendência é aumentar o número de terapias gênicas disponíveis e, para isso, mais protocolos estão sendo testados em pacientes”, disse ao Medscape o Dr. Roberto Giugliani, que lidera o Grupo de Pesquisa Clínica em Genética Médica do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, e coordena o Instituto Nacional de Genética Médica Populacional (Inagemp).

Para facilitar o entendimento, os pesquisadores dividem a terapêutica em dois campos: “Consideramos que a terapia gênica é um tipo de tratamento feito com recursos de edição genética para substituir mutações, inativar ou introduzir genes nas células de interesse. Isto pode ocorrer no laboratório em células coletadas do paciente, modificadas e reinjetadas no indivíduo, ou diretamente [no organismo] por meio da injeção de produtos de terapia gênica que são direcionados às células de interesse (por exemplo, células do fígado) para modificá-las”, explicou a Dra. Karina Tozatto Maio, pesquisadora no Hospital Israelita Albert Einstein e médica-assistente no serviço de hematologia e hemoterapia e terapia celular do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HCFMUSP).

A partir de 2010, com o uso do CRISPR/Cas9 — uma técnica de biologia molecular capaz de editar sequências de DNA em qualquer região do genoma —, a terapia gênica voltou a registrar grandes avanços. “Já na terapia celular, também utilizamos células do paciente (autólogas) ou de um doador (alogênicas) modificadas em laboratório, mas, neste caso, o objetivo é tornar a própria célula uma terapia específica para combater, por exemplo, alguns tipos de câncer”, esclareceu a pesquisadora.

O aumento na quantidade de ensaios clínicos nesta área não está relacionado somente ao aprimoramento das ferramentas de estudo dos genes, mas aos investimentos feitos por governos, universidades e indústria farmacêutica. Um exemplo disso é a Austrália, país onde a orientação é incentivar pesquisas com novas terapias, estudos translacionais e de acompanhamento do que já foi colocado em prática.

Em redes como a Sidney Children’s Hospitals Network, a abordagem gênica está em processo de incorporação, com a perspectiva de um dia se tornar o tratamento convencional. “Temos uma posição realmente especial, pois estamos fornecendo terapias genéticas e obtendo resultados incríveis, como ocorre em crianças com doenças oftálmicas que voltam a ver as estrelas no céu”, disse em entrevista o Dr. Alan Ma, especialista em genética clínica no Children’s Hospital at Westmead e professor sênior na University of Sydney, ambos na Austrália.

O próximo passo, segundo pesquisador, é descobrir os caminhos para garantir a equidade no acesso aos tratamentos gênicos e celulares em todo o sistema de saúde australiano, o que está sendo pensado a partir de estudos baseados em uma área relativamente nova, a ciência da implementação.

No Brasil, a disponibilidade de medicamentos para terapia gênica ainda é pequena em comparação a Estados Unidos, alguns países da Europa, China e Japão, por exemplo. “O país tem cinco terapias aprovadas, o que é um começo, mas é um número ainda muito limitado”, observou o Dr. Roberto.

O primeiro produto deste tipo aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) foi o Luxturna® (voretigeno neparvoveque), em agosto de 2020; o fármaco é usado no tratamento de distrofias hereditárias da retina, doenças raras que levam à cegueira progressiva e que são causadas por mutação do gene RPE65.

Administrado por injeção sub-retiniana, o medicamento contém um adenovírus que leva consigo uma cópia do gene afetado sem a mutação patogênica.

Ainda em agosto, a Anvisa aprovou o Zolgensma® (onasemnogeno abeparvoveque) para tratar a atrofia muscular espinhal, uma doença rara degenerativa provocada por uma alteração do gene codificador da proteína SMN, essencial para a sobrevivência dos neurônios motores. O fármaco foi liberado para uso em crianças com até seis meses de idade. “É um desafio, porque, quando se chega ao diagnóstico, muitas vezes esse período já passou”, disse o Dr. Roberto.

Administrado em dose única por via intravenosa, o medicamento fornece uma cópia funcional do gene humano responsável pela produção da proteína alterada.

Em dezembro de 2022, depois de muita pressão das associações de pacientes, o Zolgensma® passou a ser oferecido também pelo Sistema Único de Saúde (SUS).

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