Correio Braziliense
Jornalista: Carol Castro
09/12/19 - Imagine poder sentir o abraço de uma pessoa querida no meio de uma videochamada com ela. Ou experimentar o que acontece com o jogador que você controla durante uma partida virtual. Um projeto conduzido por pesquisadores e engenheiros das universidades de Hong Kong, na China, e de Northwestern, nos Estados Unidos, poderá viabilizar esse tipo de experiência. Para isso, eles apostam no uso de sistemas de realidade virtual (VR) integrados à pele dos usuários. A solução, que é reutilizável e controlado sem o uso de fios, foi apresentada recentemente na revista científica Nature.
Dois dispositivos são desenvolvidos pela equipe. O primeiro, chamado sistema VR epidérmico, conta com 32 atuadores hápticos — pontos de interface tátil —, que são posicionados por toda a epiderme do usuário. Já o segundo é um dispositivo adesivo que permite ainda mais praticidade ao ser fixado apenas em um local do corpo.
Yonggang Huang, cientista da universidade estadunidense e um dos líderes da pesquisa, conta que a equipe tem a intenção de usar melhor as potencialidades da pele. Para eles, diferentemente dos olhos e dos ouvidos, o maior órgão do corpo humano é uma interface sensorial relativamente pouco explorada. “Estamos expandindo os limites e as capacidades da realidade virtual e aumentada. Com esse novo sistema entrando em contato com a pele, isso poderá melhorar significativamente as experiências”, diz.
Folha flexível
O VR epidérmico trabalha por meio de uma matriz de atuadores vibratórios incorporada a uma fina camada de borracha de silicone, com espessura de 3 milímetros. A superfície macia desse material permite o contato com a pele do usuário de maneira confortável. Dessa forma, a solução combina eletrônica elástica e transferência de energia sem fio.
John A. Rogers, principal pesquisador e diretor do Centro de Eletrônica Bio-integrada da Universidade de Northwestern, explica que o dispositivo é alimentado por um esquema sem fio acoplado a um tipo de folha eletrônica flexível, semelhante a um curativo adesivo. “Isso permite o contato com a pele por meio das superfícies curvas do corpo. Podemos ajustar a frequência e a amplitude de cada ponto do sistema rapidamente e em tempo real, já que o adaptamos para perceber a força vibratória sensorial aplicada à pele”, detalha ao Correio.
Os dispositivos atuais de realidade virtual (RV) e realidade aumentada (RA) dependem da vibração transmitida à pele por motores elétricos. Segundo os pesquisadores, esse mecanismo demanda o uso de fios volumosos e baterias conectadas ao corpo, o que limita as aplicações. No novo dispositivo, os 32 atuadores são individualmente programáveis e incorporados a pequenas bobinas de fios de cobre e pequenos ímãs, que pressionam suavemente a pele de forma programada. Cada um gera uma sensação discreta de toque em um local correspondente na pele, com intensidade e duração programadas.
Touchscreen
A comunicação se dá por meio de protocolos de comunicação de campo próximo (NFC), um tipo de tecnologia amplamente usada em smartphones para pagamentos. Ele se conecta a uma interface touchscreen (presente em smartphone ou tablet, por exemplo) quando o usuário toca na tela. A vibração desse toque é transmitida para o equipamento usado pelo outro usuário.
Por exemplo, se uma das pessoas desenha um “X” na tela, é produzido um padrão sensorial, simultaneamente e em tempo real, na forma de um “X” através da interface vibratória da pele, levando o ouro usuário a sentir o movimento sobre determinado ponto de seu corpo.
O sistema é alimentado através da energia dos aparelhos eletrônicos usados por ambos os usuários. “Com esse esquema de fornecimento de energia sem fio, evitamos completamente a necessidade de baterias, com peso, tamanho, volume e vida útil limitada”, afirma John A. Rogers. “O resultado é um sistema fino e leve que pode ser usado e reutilizado sem restrições, por tempo indeterminado, o que melhora a forma como as pessoas se conectam virtualmente pelas mídias sociais ou pelos jogos on-line.”
Segundo Fernando Godoy, desenvolvedor digital da Flex Interativa, o novo sistema também poderá ser útil no campo da biociência e da medicina. “Do meu ponto de vista, é sensacional trazer essa ideia do toque, tudo ficará cada vez mais perto do real a partir do momento em que essa tecnologia passe a ser utilizada para a melhoria dos treinamentos de cirurgias cirúrgicas, por exemplo.”
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