Novo procedimento utiliza ondas de ultrassom guiadas por ressonância magnética
POR EQUIPE CAMINHOS PARA O FUTURO
SALA HÍBRIDA DO HCOR, ONDE SÃO REALIZADOS PROCEDIMENTOS E EXAMES (FOTO: DIVULGAÇÃO)
Pesquisadores da Universidade de Maryland, nos Estados Unidos, estão testando um tratamento inovador para a doença de Parkinson.
O procedimento utiliza ondas de ultrassom, guiadas por imagens de ressonância magnética, para atingir uma área específica do cérebro, ligada ao controle dos movimentos.
A intervenção, que não requer qualquer tipo de corte, é realizada com o paciente acordado e seus efeitos podem ser observados imediatamente.
Foi o que ocorreu com Kimberly Spletter, 50, primeira pessoa a receber o novo tratamento. Ela sofria com movimentos incontroláveis em uma das pernas e, logo após o procedimento, já era capaz de caminhar. Uma semana depois, conseguia até correr.
O Parkinson é uma doença degenerativa do sistema nervoso que atinge cerca de dez em cada cem mil pessoas.
Entre os sintomas estão a perda de equilíbrio, dificuldade para comer e rigidez muscular, que prejudicam muito a qualidade de vida. A enfermidade está relacionada à morte de células localizadas no tronco cerebral, responsáveis pela produção de um neurotransmissor chamado dopamina.
Essa substância modula o funcionamento de duas áreas no cérebro (o globo pálido e parte do tálamo) que são responsáveis pelo controle dos movimentos musculares, explica a Dra. Alessandra Gorgulho, professora assistente na Universidade da Califórnia (EUA) e coordenadora clínico-científica do HCOR Neuro, em São Paulo. “Na ausência da dopamina, essas regiões se tornam hiperativas, desencadeando descargas elétricas que são transmitidas aos músculos, causando rigidez e tremores”, acrescenta Dr. Antonio De Salles, chefe do HCOR Neuro e professor emérito do departamento de neurocirurgia da Universidade da Califórnia, nos EUA.
Quando a doença está em seus estágios iniciais, ela pode ser controlada por meio de medicamentos que simulam o efeito da dopamina no cérebro. Porém, essa abordagem tem prazo de validade. Depois de dez anos, é comum que os remédios não só percam o efeito como também causem um dano colateral – a distonia, caracterizada por movimentos repetitivos anormais. É para esses pacientes, que já não respondem aos remédios e precisam de intervenção cirúrgica, que a nova técnica é direcionada.
Trata-se de um novo tipo de cirurgia ablativa - procedimento em que microlesões são feitas no cérebro, para que o paciente possa retomar o controle dos movimentos.
Esse método já é usado no tratamento de Parkinson desde a década de 1950. No passado, porém, isso implicava abrir o crânio do paciente. Muito se avançou desde então, para tornar o método menos invasivo e mais seguro. E a abordagem desenvolvida pelos pesquisadores de Maryland é um passo importante nesse sentido.
O novo tratamento usa o ExAblate, uma tecnologia da GE Healthcare em parceria com a empresa israelense Insightec, que alia ressonância magnética e ultrassom. Segundo foi divulgado pela Universidade de Maryland, durante o procedimento o paciente entra em um scanner de ressonância magnética com um aparato que imobiliza sua cabeça.
Em seguida, ondas de ultrassom são direcionadas ao globo pálido (estrutura que integra o encéfalo, no cérebro) aumentando a temperatura na área até causar uma pequena lesão. Enquanto isso, as imagens obtidas por meio da ressonância oferecem à equipe médica um mapa em tempo real da região que está sendo tratada.
O estudo clínico ainda está na fase 1 (etapa em que se avalia a segurança do procedimento). Mas, segundo De Salles, trata-se de uma abordagem extremamente promissora.
Ele afirma que a técnica já foi testada na Universidade da Virginia em pacientes que sofrem com tremor essencial – uma desordem neurológica que também leva a movimentos involuntários. “O procedimento foi muito efetivo, e são raros os casos em que o tremor volta a ocorrer”, diz De Salles.
Hoje, a cirurgia ablativa também pode ser feita por meio de radiação, usando o equipamento Gamma Knife – nesse caso, o tálamo é atingido não por ondas de ultrassom, mas por raios gama. Uma grande diferença, porém, é que nessa abordagem (com radiação) a equipe não dispõe daquele mapa em tempo real do cérebro, mas depende de cálculos feitos a partir da imagem da ressonância magnética.
Outras opções são a cirurgia ablativa por meio de radiofrequência e a estimulação cerebral profunda – ambas as intervenções dependem, porém, de uma cirurgia convencional, na qual é feita uma pequena abertura no crânio.
Na estimulação cerebral profunda, um eletrodo é implantado no cérebro do paciente. O dispositivo, que é associado a um marca-passo, emite sinais que bloqueiam a atividade de três regiões do cérebro (globo pálido, tálamo e subtálamo).
A maior vantagem desse método é que o eletrodo pode ser ajustado à medida que a doença avança, tornando-se mais forte conforme a necessidade. Porém, trata-se de um procedimento muito caro. “As principais desvantagens da estimulação cerebral profunda são seu custo e o fato de depender de uma cirurgia aberta.
Por isso, vemos hoje um retorno das cirurgias ablativas, como essa feita com o ExAblate e a Gamma Knife, que podem ser acessíveis para uma maior parcela da população”, diz Dr. Salles.
Essas opções de tratamento – Gamma Knife, e estimulação cerebral profunda – estão disponíveis no HCor. Elas são realizadas em uma sala híbrida, equipada tanto para a realização de procedimentos de neurointervenção como para exames de Ressonância Magnética.
Essa estrutura chamada MR Surgical Suite, ou Solução de MR Cirúrgica, permite que os exames de imagem sejam usados antes, durante e depois das intervenções, proporcionando mais segurança. Inaugurada em 2014, a sala conta com equipamento de ressonância GE e foi desenhada para, futuramente, poder receber o ExAblate. “Esperamos que em breve possamos ter essa tecnologia a nossa disposição”, afirma Dr. Salles.
Comentários