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Estamos chegando cada vez mais perto da cura da aids. Apenas dois dias depois de cientistas terem anunciado a existência de uma segunda pessoa que pode ter vencido o vírus HIV, foi revelado um terceiro paciente que possivelmente teria sido totalmente curado da doença.

O anúncio desse terceiro avanço ocorreu na última terça-feira (5), durante a Conferência Sobre Retrovírus e Infecções Oportunistas, em Seattle, nos Estados Unidos. O chamado “paciente de Düsselforf”, segundo um time de especialistas dos Países Baixos, foi submetido ao mesmo tipo de transplante de medula óssea pelo qual passaram os outros dois pacientes que também teriam sido curados.

Em entrevista à New Scientist, a pesquisadora Annemarie Wensing, da Universidade de Medicina Central de Utrecht (Holanda), contou que o paciente da Alemanha ficou três meses sem tomar os medicamentos antivirais e as biópsias coletadas do intestino e dos gânglios linfáticos dele não mostraram nenhum sinal da presença do microrganismo.

O primeiro caso

O primeiro registro de que um homem teria se livrado do vírus HIV ocorreu em 2007. O caso foi inicialmente apelidado de “paciente de Berlim”; mas o homem acabou sendo identificado como Timothy Ray Brown, de 52 anos, que atualmente vive em Palm Springs, na Califórnia, Estados Unidos.

Diagnosticado com leucemia, Brown teria enfrentado dois transplantes de células-tronco após os médicos não verem progresso com a quimioterapia. O doador que possibilitou o transplante tinha uma mutação na proteína CCR5. Assim, o paciente teve de enfrentar uma dosagem de medicamentos imunossupressores e sofreu uma série de complicações; chegou a ficar em coma induzido e quase morreu.

“Ele ficou muito abatido com todo o procedimento”, relatou Steven Deeks, especialista em aids da Universidade da Carolina, nos Estados Unidos, responsável por tratar o Brown. 12 anos depois, no entanto, não havia mais vírus HIV detectado no organismo do paciente.

Ao jornal The New York Times, por e-mail, o “paciente de Londres” descreveu sua possível cura de um câncer e da infecção do HIV como “surreal” e “extraordinária”. “Nunca pensei que existiria uma cura enquanto eu estivesse vivo”, afirmou.

Mas o sucesso do caso ainda deixou muitos pontos de interrogação na mente dos médicos e pesquisadores envolvidos. “Nós sempre nos perguntamos se a condição dele, na qual houve uma destruição massiva do sistema imune, foi a razão porque ninguém foi curado além de Timothy”, explica o especialista Steven Deeks.


Um segundo caso

Depois de Brown, chegou a vez do “Paciente de Londres”, divulgado pela Revista Nature. A história dele foi muito similar ao seu antecessor. Ele também diagnosticado com um câncer – no caso, com linfoma de Hodgkin, que se origina nos gânglios do sistema linfático (conjunto de órgãos e tecidos que produzem as células responsáveis pela imunidade).

O paciente foi submetido a um transplante de células-tronco em maio de 2016. Ele seguiu com um tratamento antiviral até que os médicos interromperam o processo. Nos 18 meses seguintes à cirurgia, exames de sangue não identificaram mais o HIV.

Os pesquisadores, então, fizeram o anúncio sobre a história do paciente anônimo. Porém, eles só se sentirão confiantes em classificar o caso como cura após três anos do desaparecimento do vírus.

De qualquer forma, o “paciente de Londres” abriu o leque de possibilidades para o tratamento para a cura da aids. Isso porque a partir dele, concluiu-se que não é necessário que o paciente passe por experiências de quase-morte (como ocorreu com o “paciente de Berlim”) para que ele tenha a possibilidade de vencer a doença. “Acho que isso muda um pouco o nosso cenário”, opinou Ravindra Gupta, virologista na Universidade de Londres, que apresentou a descoberta em Seattle. “Todos acreditavam que depois de ‘Berlim’, o paciente precisava quase morrer para se curar do HIV. Mas talvez esse não seja mais o caso.”

Em andamento

Após o caso do terceiro paciente, a pesquisa ainda está em progresso. Não é possível concluir se o procedimento realmente foi eficaz na cura do primeiro paciente – mesmo 12 anos após o anúncio dos resultados inéditos – e nem na recuperação do terceiro. Há a possibilidade de que o vírus ainda esteja “adormecido”.

A dificuldade em combater o vírus HIV se deve porque após sua entrada nas células, ele se esconde e impede que o sistema imunológico o encontre. É por isso que o tratamento com os antirretrovirais tornou-se o mais eficiente nas últimas décadas, com menos efeitos colaterais; embora não consiga eliminar a doença de vez.

Atualmente, a comunidade científica está no aguardo de mais resultados, já que outras duas pessoas que também fizeram o transplante de medula óssea ainda estão tomando medicação antivirais. Segundo Javier Martinez-Picado, do Instituto IrsiCaixa de Pesquisa em Aids de Barcelona (Espanha), caso esses pacientes respondam da mesma forma que os casos anteriores, é possível que o vírus do HIV seja considerado erradicado: o número crescente de casos de sucesso pode abrir espaço para que cientistas digam com confiança que a cura foi encontrada.

Fonte: Revista Galileu

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