Valor Econômico
Jornalista: Stella Fontes
21/02/20 - Um dos maiores grupos empresariais do país, o Ultra indicou ontem que projeta melhora para seus cinco negócios - Ipiranga, Oxiteno, Ultragaz, Ultracargo e Extrafarma - em 2020, mas a mensagem não teve impacto imediato entre os investidores, que seguem reticentes. Na esteira do balanço do quarto trimestre, que incluiu baixa no ágio de aquisição da Extrafarma no valor de R$ 593,3 milhões e números mais fracos do que o esperado na Ipiranga, as ações da Ultrapar encerraram o dia com perda de 7,33%, negociadas a R$ 22,11, terceira maior baixa do Ibovespa.
Os resultados operacionais no quarto trimestre dividiram a opinião dos analistas. Enquanto alguns profissionais indicaram que os números vieram dentro do esperado, houve quem tenha apontado que o balanço foi fraco e que as perspectivas também não são positivas. Em comum, os analistas de UBS, Safra, BTG Pactual e Bradesco BBI destacaram que o prejuízo de R$ 266,5 milhões não estava previsto, apesar de refletir a baixa na Extrafarma.
Em teleconferência com analistas, o presidente do Ultra, Frederico Curado, disse que 2019 foi um ano importante para o grupo, com melhoria em todos os negócios, e 2020 deve manter essa tendência. Em relação ao direcionamento estratégico, comentou que o foco em rentabilidade está mantido.
Na Ipiranga, por exemplo, o esforço segue em fortalecer a rede e recupera margens, sem abrir mão de participação de mercado. “Isso não é simples em um mercado cada vez mais competitivo, mas já vemos resultados positivos”, disse.
Historicamente conservadora, a Ultrapar foi questionada sobre a alavancagem de 2,87 vezes em dezembro. Segundo Curado, o índice não preocupa, uma vez que a posição de caixa é confortável e a dívida, de custo baixo. E assim que os negócios do grupo estiverem estabilizados, com ênfase em Oxiteno e Extrafarma, a capacidade será de desalavancagem relativamente rápida. Nos dois últimos trimestres, a rede de varejo farmacêutico teve fluxo de caixa positivo, o que deve se manter neste ano,
conforme previsão da companhia.
De acordo com o diretor financeiro e de relações com investidores, André Pires, a principal razão para que a alavancagem não seja menor é a queda do Ebitda. “Mas temos a visão que isso volta aos níveis mais próximos do histórico ao fim do ano”, afirmou.
Essa alavancagem não atrapalha eventuais planos do Ultra de disputar as refinarias colocadas à venda pela Petrobras. Conforme Curado, há oportunidades já que quatro dos negócios do grupo - Ipiranga, Oxiteno, Ultragaz e Ultracargo – têm sinergia estratégica “clara”. “Continuamos olhando esses ativos com bastante seriedade e interesse”, disse.
Além disso, acrescentou Pires, a consumação do potencial venda de ativos pela estatal somente deve ocorrer no segundo semestre do ano que vem, uma vez que a Petrobras terá de executar a cisão desses ativos, o que deve levar cerca de 12 meses. Em teoria, para o Ultra, seria mais interessante participar da disputa junto com um sócio estratégico, que aporte conhecimento sobre a atividade de refino.
A privatização das refinarias e de terminais de regaseificação também pode trazer ganhos para a Ultragaz no médio prazo, à medida que possibilitará maior concorrência na oferta de gás no mercado doméstico, conforme Curado. Além do acesso à matéria-prima importada, pode haver redução de preços do GLP, já que hoje a Petrobras é a única fornecedora e toma como base as cotações no mercado europeu, que são superiores às do Golfo do México.
Em relação à Oxiteno, Curado disse que a nova fábrica de especialidades químicas em Pasadena, nos Estados Unidos, deve alcançar o ponto de equilíbrio entre o fim deste ano e o início de 2021. “. É bastante promissor o que vai acontecer por lá agora”, disse. Neste início de ano, a empresa já vê aumento nos volumes de especialidades e oportunidades de melhora de rentabilidade, com expectativa de resultados melhores em 2020 do que os vistos no ano passado.
A previsão para os resultados da empresa neste ano é de recuperação, com o maior volume produzido nos Estados Unidos e aumento da demanda por especialidades químicas no Brasil, embora as margens das commodities permaneçam pressionadas.
Na Ipiranga, a previsão é de crescimento junto com o mercado de combustíveis, que será impulsionado pela expansão da economia. A concorrência segue acirrada e, apesar desse ambiente, e a meta é dar continuidade à recuperação de rentabilidade.
Na Ultragaz, a previsão para este ano é de crescimento do mercado em linha com o PIB e nova rodada de melhoria dos níveis de rentabilidade. Já na Ultracargo, a expectativa é de expansão acima do que foi visto em 2019, diante da adição de capacidade em Itaqui (MA) e das expansões que entraram em operação no ano passado. Por fim, para a Extrafarma, a previsão é a de que 2020 mostre melhora dos resultados trimestrais na comparação anual.
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