Procedimento da paciente contemplada foi acompanhado em Campinas.
Placa de titânio usada para reconstrução facial foi feita em impressora 3D.
O caso de Jéssica Cussioli, de 23 anos, foi acompanhado antes, durante e depois da cirurgia com exclusividade pela EPTV, afiliada da TV Globo. (Veja o vídeo acima).
A estudante ficou com um buraco de 12 cm de comprimento no crânio após cair de moto e bater a cabeça em uma caçamba de entulho há cerca de oito meses. Ossos na região do olho direito também ficaram fraturados. Uma semana após a reconstituição, a jovem já fazia planos para o futuro.
"Quero ir no shopping! Terminar a minha faculdade. Só coisa nova daqui pra frente. Cabeça nova, coisa nova", conta a estudante.
O procedimento foi feito pelo Sistema Único de Saúde (SUS). No entanto, como é parte de uma pesquisa da Faculdade de Ciências Médicas, ainda não há uma previsão para que o procedimento seja disponibilizado para toda a rede pública.
Reflexos do acidente
Desde que Jéssica sofreu a colisão, ela nunca deixou de ter dores e desconfortos. Ao bater com a cabeça, a quina da caçamba atravessou a viseira do capacete, causando o ferimento grave. Ela esteve lúcida durante a espera pela chance de reconstrução.
buraco de 12 cm no crânio(Foto:Reprodução/EPTV)
"Tontura, dor de cabeça, mal-estar. O desconforto que eu sinto. Imagina você ter fortes dores de cabeça todos os dias, todo o tempo", conta.
Persistência deu certo
Logo após o acidente, a família de Jéssica chegou a fazer o orçamento de uma prótese para reconstruir o rosto dela. O valor, no entanto, era de R$ 130 mil. A mãe da jovem pesquisou alternativas, enviou mensagens para locais envolvidos com fabricação e estudos de próteses.
Uma delas chegou até o Instituto Biofabris, ligado ao Ministério da Ciência e Tecnologia, que desenvolveu a técnica em titânio em parceria com a Unicamp. O exame de tomografia de Jéssica foi usado como base e um programa de computador criou o modelo virtual do crânio fraturado.
Uma impressora em 3D produziu o mesmo modelo em resina e placas de titânio para cobrir os buracos nos ossos também foram desenvolvidas.
"Esse procedimento existe em outros países. O ineditismo é que esse procedimento é feito com conhecimento nacional. Para nós é um grande avanço, porque facilita a reconstrução, permite um resultado estético extremamente próximo do que era antes e agrega valor de competências científica e de manufatura ao Brasil", explica Paulo Kharmandayan, professor do departamento de cirurgia plástica.
Os responsáveis pela pesquisa precisaram da aprovação do Conselho de Ética da Unicamp para realizar a cirurgia, já que o material utilizado ainda não tem a aprovação da Anvisa.
Técnica reduz rejeição
As técnicas já conhecidas para viabilizar a reconstrução da face usam exerto ósseo ou resina acrílica, o polimetilmetacrilato. No entanto, o resultado é inferior à nova técnica desenvolvida.
"O polimetilmetacrilato frequentemente leva a um processo de rejeição. Essa rejeição pode causar pequenas ou grandes feridas na pessoa, no coro cabeludo ou na face. O titânio, por sua vez, também é um material biocompatível, mas numa escala muito maior", afirma o professor.
Para o pesquisador da Biofrabris André Luís Munhoz, a resistência do titânio vai além dos outros materiais. "Resistência mecânica, resistência à corrosão, quando dentro do corpo humano, e a densidade, é um material leve. A recuperação do paciente é como se fosse uma parte do próprio osso", explica.
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