Falha na vacina ou mutação do vírus?
A imunidade contra o vírus da caxumba parece insuficiente em uma fração das pessoas em idade universitária que foram vacinadas na infância.
Esta descoberta destaca a necessidade de entender melhor a resposta imune à caxumba e às vacinas contra caxumba, afirmam pesquisadores do Centro de Vacinas da Universidade Emory e dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos.
Uma das possibilidades é que pode ser necessário desenvolver uma nova vacina.
Nos últimos 15 anos, vários surtos de caxumba ocorreram entre estudantes universitários, equipes esportivas e comunidades muito unidas em todo o mundo.
Dois fatores contribuintes possíveis incluem uma menor imunidade induzida pela vacina e diferenças entre a cepa do vírus da caxumba que circula atualmente e a cepa usada para produzir a vacina, que faz parte da vacina infantil padrão contra o sarampo, caxumba e rubéola, a conhecida “vacina tríplice viral”.
“No geral, a vacina tríplice tem sido ótima, com uma redução de 99% no sarampo, caxumba e rubéola, e uma redução significativa nas complicações associadas desde a sua introdução.
“O que estamos vendo agora com esses surtos de caxumba é uma combinação de duas coisas: algumas pessoas não estão formando uma resposta imunológica forte, e a cepa em circulação se afastou da cepa que está na vacina,” disse o professor Sri Edupuganti, membro da equipe que está tentando desvendar o problema.
Vacinados, mas sem anticorpos
A maioria dos participantes analisados pela equipe (93%) tinha anticorpos contra a caxumba, mas 10% deles não tinham células B de memória específicas para caxumba detectáveis, as quais normalmente seriam capazes de produzir anticorpos antivirais como parte de uma memória de resposta após a exposição ao vírus da caxumba. Em média, a frequência de células B de memória no sangue dos participantes foi 5 a 10 vezes menor para células que produzem anticorpos contra a caxumba, em comparação com células que produzem anticorpos para sarampo ou rubéola.
Além disso, os anticorpos dos participantes não neutralizaram o vírus da caxumba do tipo selvagem com a mesma eficiência que o vírus da vacina. Uma parte significativa do pequeno grupo de participantes do estudo pode ter ficado suscetível à infecção pela cepa de caxumba do tipo selvagem em circulação no momento, concluíram os pesquisadores, acrescentando que não viram uma relação clara entre o momento da vacinação e os baixos níveis de anticorpos ou células B de memória.
Um teste de intervenção mostrou que uma terceira dose da vacina tríplice resultou no aumento das respostas de anticorpos neutralizantes à caxumba em alguns indivíduos; no entanto, os níveis de anticorpos diminuíram em relação à linha de base em 1 ano, o que significa que o efeito da dose adicional não foi duradouro.
A conclusão é que estudos adicionais para caracterizar a resposta imunológica a cepas da caxumba da vacina e de tipo selvagem são claramente necessários para determinar se é necessário o desenvolvimento de uma nova vacina contra caxumba, dizem os pesquisadores, salientando que o desenvolvimento de uma nova vacina exigiria um grande investimento em ensaios clínicos necessários para demonstrar sua segurança e eficácia.
Caxumba
Os sintomas da caxumba incluem aqueles comuns a doenças virais – fadiga, dores no corpo, dor de cabeça -, mas um aspecto distinto é frequentemente o inchaço das glândulas salivares.
Casos mais graves podem levar à encefalite ou surdez.
A caxumba se espalha por contato direto, gotículas ou objetos contaminados. Geralmente, leva de 16 a 18 dias para que os sintomas da caxumba apareçam após o início da infecção.
Checagem com artigo científico:
Artigo: Decreased humoral immunity to mumps in young adults immunized with MMR vaccine in childhood
Autores: Mohammed Ata Ur Rasheed, Carole J. Hickman, Marcia McGrew, Sun Bae Sowers, Sara Mercader, Amy Hopkins, Vickie Grimes, Tianwei Yu, Jens Wrammert, Mark J. Mulligan, William J. Bellini, Paul A. Rota, Walter A. Orenstein, Rafi Ahmed, Srilatha Edupuganti
Publicação: Proceedings of the National Academy of Sciences
Vol.: 116 (38) 19071-19076
DOI: 10.1073/pnas.1905570116
Fonte: Diário da Saúde
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