Espirros seguidos, olhos, nariz, garganta e ouvidos coçando, lágrimas e vermelhidão na face. Se você sofre com rinite alérgica, sabe muito bem quão ruim é tudo isso. E você não está sozinho. Segundo a Associação Brasileira de Alergia e Imunologia, de 10% a 25% dos brasileiros também passam por isso, e as crises provocam impactos negativos no dia a dia e na qualidade de vida.
Diante das consequências, que incluem dor de cabeça, baixa qualidade do sono, fadiga e comprometimento da produtividade e das funções cognitivas, fazer um tratamento com vacina pode ser muito mais eficaz. Um estudo de 2016 feito na Faculdade de Medicina de Jundiaí mostrou que os sintomas da rinite desapareceram em 79% das pessoas que testaram o método.
“No longo prazo, a vacina é muito melhor, porque o medicamento via oral ou spray nasal atuam naquele momento, tira da crise, mas é uma medicação pontual, não atua no sistema imunológico igual a vacina”, explica a otorrinolaringologista Milena Costa.
A dona de casa Rita Eliana Acerbi da Silva fez esse tratamento há 15 anos, o que foi um divisor de águas para ela. Ela tinha uma alergia “que não passava nunca”, principalmente a ácaro, e um dia resolveu ir a uma clínica especializada para se consultar. Hoje, aos 54 anos de idade, ela vive muito melhor. “Posso limpar a casa normalmente que não tenho nada.” Rita diz que, de vez em quando, o nariz ainda coça quando se depara com algum fator de risco, mas nada que a incomode da mesma forma que antes.
Milena afirma que todas as pessoas, de crianças a idosos, podem fazer esse tratamento para rinite. Porém, há alguns grupos nos quais a medicação deve ser evitada: quem tem asma descontrolada, doenças coronárias ou autoimunes. A precaução é porque a vacina é composta pelos próprios agentes que causam a alergia. Se alguém com uma dessas condições recebe seu ‘inimigo’ no corpo, a resposta pode ser negativa. “O efeito pode ter risco à vida do paciente”, diz a médica.
Como funciona a vacina para rinite?
Antes de prescrever a vacina, o médico faz um teste para saber a quais fatores a pessoa tem resposta alérgica. Pode ser ácaro, pólen, alimentos, pelo de animais ou fungos, por exemplo. Além de um exame de sangue, pode-se fazer o teste cutâneo, em que gotas com o alérgeno são depositadas sobre a pele para se verificar a reação.
Com o resultado, é fabricada uma vacina específica, que vai conter pequenas doses do componente que causa a alergia. Isso serve para modular o sistema imunológico a fim de que ele ‘se acostume’ com a substância e não reaja de forma inflamatória. O tratamento, segundo Milena, incluindo a necessidade de manutenção, pode levar de três a cinco anos, mas pode durar menos também. Rita, por exemplo, ficou seis meses tomando a medicação subcutânea.
A jornalista Claudia Capato, de 24 anos, também fez o tratamento para rinite com vacina por um semestre. Ela sofre com o problema desde a infância, mas há três anos, quando as crises se intensificaram e não davam trégua, o médico indicou as injeções. “Enquanto fiz o tratamento, foi excelente, eu não tinha nada. A melhora foi em um mês, bem rápido”, conta.
Mesmo tendo feito o tratamento corretamente, Claudia sofre com a rinite até hoje, mas bem menos. “Eu carrego papel higiênico na bolsa sempre, porque eu não sei quando pode me dar uma crise”, afirma ela, que é sensível à mudança de temperaturas e cheiros fortes. No entanto, quando a crise vem, é mais branda e um antialérgico resolve. Além disso, o número de crises diminuiu: foram cinco este ano até agora, “bem pouco comparado ao que tinha antes”.
A otorrino Milena afirma que, apesar de muito eficaz, não é possível garantir que a pessoa nunca mais terá crises alérgicas após a vacina. “Eventualmente, precisa fazer terapia de manutenção, muitas vezes não se consegue evitar determinado alérgeno, mas o número de crises diminui”, afirma.
Vacina para rinite: aplicação, periodicidade e preço
As doses da vacina para rinite são aplicadas gradualmente de acordo com o tipo e grau da alergia. De início, as injeções são de uma a duas vezes por semana, por alguns meses. Depois que a pessoa tem uma melhora, as aplicações podem ser quinzenais, depois mensais ou até uma vez no ano. Mas tudo é bem individualizado. “Vai depender muito da história do paciente e da resposta de cada um [à vacina]”, diz Milena.
Segundo a especialista, as injeções devem ser aplicadas sempre por um médico, de preferência em clínicas especializadas. “Essas aplicações não podem ser feitas em farmácias ou em casa, pois se houver reação alérgica (pode haver complicações sérias, como choque anafilático), o paciente precisa estar supervisionado”, explica.
Se a pessoa tem alergia a mais de um componente, a vacina pode ser feita com mais de um composto, mas isso encarece o produto. As mulheres com quem o E+ conversou se trataram com cobertura do convênio, mas em clínicas particulares o preço do tratamento completo fica na casa dos milhares, segundo a otorrino. “[O preço] é o grande fator limitante. Varia de acordo com o número de aplicações, de quantos alérgenos vai sensibilizar. Quanto mais alérgenos, mais caro. Mas se a pessoa tem resposta rápida, injeta menos e reduz o preço”, diz a médica.
De fato, é preciso pensar na relação entre custo e benefício. Talvez valha a pena colocar ‘na ponta do lápis’ o quanto se gasta com antialérgicos, sprays nasais e possíveis idas ao pronto-socorro e comparar no longo prazo. O fato de ter de ir toda semana a uma clínica para aplicar as injeções também é um fator a ser considerado. Embora o tratamento para rinite com vacina seja demorado, é possível que compense e proporcione melhor qualidade de vida, que é muito afetada pelas crises alérgicas.
Fonte: Terra
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