Patients wait to be seen at the Uganda Cancer Institute at Mulago Hospital in Kampala. Drugs to treat cancer and many other diseases are now more widely distributed in poor countries.CreditCreditCharlie Shoemaker for The New York Times
Remédios antes disponíveis apenas em países ricos, como o tratamento contra HIV, são agora distribuídos nos locais mais remotos do planeta
Donald G. Mcneil Jr., The New York Times
Vinte anos atrás, milhares de africanos morriam diariamente de aids enquanto as empresas farmacêuticas apenas assistiam, declarando sentirem muito e alegando ser impossível reduzir o preço de seus medicamentos contra o HIV, que chegava a US$ 15.000 por ano. Amplas mudanças transformaram a indústria farmacêutica nas duas décadas mais recentes. Poderosos remédios antes disponíveis apenas em países ricos são agora distribuídos nos locais mais remotos do planeta, salvando milhões de vidas a casa ano.
Quase 20 milhões de africanos recebem agora o tratamento contra o HIV – a um custo anual inferior a US$ 100 por ano. Medicamentos da mais alta qualidade para o tratamento da malária, tuberculose, hepatite C e alguns tipos de câncer são agora vendidos a preços baixos em países pobres.
Antes demonizadas por seu interesse imoral no lucro, muitas das 20 maiores empresas farmacêuticas do mundo mostram agora seus esforços para ajudar os países mais pobres no combate a doenças negligenciadas. Elas concorrem entre si no Access to Medicine Index [Índice de Acesso a Medicamentos], que as classifica de acordo com seus esforços de caridade.
Várias delas chegam até a cooperar com as empresas indianas de genéricos antes consideradas “piratas” por meio do sublicenciamento, possibilitando que as fabricantes de genéricos abasteçam mercados na África, Ásia e América Latina com remédios baratos. Mas ainda há oportunidades para o crescimento. A maior parte do progresso da indústria se limita a poucas empresas, e seus esforços são demasiadamente dependentes do dinheiro de doadores, de acordo com relatório divulgado em maio pela Access to Medicine Foundation, responsável pela publicação do índice, e também com entrevistas de especialistas.
Conforme as pessoas vivem mais tempo nos países em desenvolvimento, as mortes por câncer, diabetes e problemas cardíacos estão aumentando. Empresas farmacêuticas são menos ágeis na oferta de tratamentos para doenças crônicas. “A situação ainda é frágil”, avaliou Jayasree K. Iyer, diretor executivo da fundação. “O afastamento de uma empresa ou uma queda nos investimentos de saúde pode colocar em risco o progresso alcançado até agora”.
O índice classifica agora as 20 maiores empresas farmacêuticas dos Estados Unidos, Europa e Japão de acordo com seus esforços de distribuição de medicamentos para a população pobre do mundo. A GSK, antes conhecida como GlaxoSmithKline, foi campeã em todas as edições, e sua pontuação aumenta constantemente. Johnson & Johnson, Novartis, Sanofi e Merck KGaA, com sede na Alemanha, apresentam pontuação consistentemente alta. As fabricantes japonesas de medicamentos Takeda e Eisai ocupam a quinta e a oitava posições, respectivamente.
A Access to Medicine Foundation publicou recentemente uma retrospectiva de tudo que mudou desde a época da sua fundação, em 2005, pelo holandês Wim Leereveld, ex-consultor informativo da indústria. Em 1998, com 250 mil de seus cidadãos morrendo de aids todos os anos, o parlamento da África do Sul legalizou a suspensão de patentes de remédios, para que o governo pudesse então importar genéricos.
Quase imediatamente, 39 empresas farmacêuticas entraram com ações na justiça para invalidar a lei. Na esteira da reprovação internacional, o processo foi encerrado em 2001. “Fiquei horrorizado”, lembrou Tadataka Yamada, que trabalhava na GlaxoSmithKline. “A indústria, que era uma das mais respeitadas do mundo, passou a ser considerada quase tão maléfica quanto as empresas do tabaco”.
Uma virada ocorreu em 2001, quando a indiana Cipla ofereceu remédios para o tratamento do HIV aos Médicos Sem Fronteiras ao custo anual de US$ 350 por paciente. A oferta revelou o preço superfaturado de muitos remédios que garantiam o lucro das empresas farmacêuticas. Quando Leereveld começou a publicar sua classificação, em 2008, ele disse que as empresas ignoravam suas solicitações de informação. Mesmo assim, ele prosseguiu com a ideia usando informações de fontes públicas.
Então, a maré virou. Antes de publicar a primeira classificação, ele revelou a todas as 20 empresas como elas seriam retratadas. “Oito delas disseram que algumas das nossas respostas estavam erradas, decidindo participar”, destacou. “Dois anos depois, todas as 20 respondiam às nossas solicitações”.
Yo Takatsuki, executivo da firma Axa Investment Managers, em Londres, disse que as empresas começaram a enxergar novos motivos para distribuir remédios em países pobres: o lucro futuro. Conforme os mercados ocidentais envelhecem e sua população se estabiliza, empresas como AstraZeneca e Sanofi obtêm agora quase um terço da sua receita nos países em desenvolvimento. “Enquanto investidores, pedimos às empresas que pensem nas oportunidades de negócios nos mercados emergentes, em vez de enxergá-los como oportunidade de realizar ações meramente filantrópicas e não lucrativas”. / TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL
Fonte: O Estado de S. Paulo
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