por Correio Braziliense
Colunista: Circe Cunha
01/10/19 - No último dado apresentado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) em 2018, até 2050, o número de pessoas com idade superior a 60 anos chegará próximo a 2 bilhões, o que equivalerá, aproximadamente, a um quinto da humanidade. Dentro desse quadro, é preciso destacar que, há exatos três anos, o Brasil tinha a quinta maior população idosa do mundo, o que não é pouca coisa. Entre 2012 e 2018, o número de brasileiros com mais de 65 anos cresceu 26%, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Com uma população de 207,8 milhões, 10,5% desse total é formado hoje por indivíduos com idade superior a 65 anos, o que equivale a 21,872 milhões de pessoas.
Pelas projeções dos estatísticos daqui a uma década, nosso país terá um número de idosos superior ao de crianças na faixa de zero a 14 anos. Isso significa que a população brasileira está envelhecendo numa velocidade muito superior a qualquer outra do planeta. Ocorre que, nos países desenvolvidos, tem havido tempo, disposição e recursos para preparar a mudança no perfil etário da população. No Brasil, apesar de todos os alertas dados por especialistas no assunto, não parece haver qualquer movimento das autoridades para preparar nosso país para essa nova e séria realidade.
De fato, o Estado e a própria sociedade não estão preparados para essa mudança nem se observa políticas públicas nesse sentido. Enquanto no Legislativo, nota-se a formação de poderosas bancadas políticas, com grande poder de pressão e lobby sobre o governo, como é o caso das bancadas do agronegócio, da Bíblia, da segurança e outras, não há resquícios sequer de uma bancada dos idosos, capaz de levar os governantes e parlamentares à formulação de leis e políticas públicas para enfrentar esse futuro anunciado.
Como a maioria das ações adotadas pelo Estado, o que parece acontecer é que, quando o problema se instalar de vez, de modo irreversível, as autoridades vão analisar as possíveis políticas para enfrentar a questão e, quem sabe, adotar medidas de afogadilho. Nesse caso, como sempre acontece, serão atendidos em primeiro lugar as elites políticas e todos aqueles do alto da pirâmide, o restante ver-se-á.
Nem a tão propalada e difícil reforma da Previdência, nos moldes como está sendo confeccionada agora, parece ter os instrumentos para enfrentar a grave mudança no perfil demográfico de nosso país. Trata-se de problema que, a exemplo de outros, não rendem votos nem visibilidade, está sendo empurrado para frente a cargo dos governantes que virão. Ocorre que, nesse caso, as políticas públicas com um olhar para a população idosa necessitam tempo de elaboração, justamente pela complexidade do tema. Necessitará de laborioso, metódico e paciente plano que adapte nosso país para os novos tempos. Em outras palavras, essa preparação vai requerer um trabalho minucioso de relojoeiro, ajustando cada pequena peça no seu lugar, de forma que o conjunto trabalhe em harmonia.
Enquanto não for adotado um programa suprapartidário, contínuo e de longo prazo para começar a elaborar esse conjunto de medidas para o Brasil do futuro, os idosos terão que, por conta própria, ou se preparar para o pior, ou adotar providências para pressionar o Estado, acordando-o da letargia.
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