Correio Braziliense
Jornalista: Indefinido
14/11/19 - Cientistas brasileiros usaram células do zika vírus para inibir o crescimento do câncer de próstata. Em experimentos laboratoriais, os pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) descobriram que, mesmo após ser inativado por meio de altas temperaturas, o micro-organismo consegue evitar a proliferação de células tumorais humanas em cultura. As descobertas foram apresentadas na revista especializada Scientific Reports.
A equipe é a mesma que conseguiu resultados positivos ao usar o zika para combater o glioblastoma, um tipo comum de tumor cerebral. No novo estudo, eles realizaram testes com uma linhagem de adenocarcinoma de próstata humano, chamada PC-3. A célula do zika foi obtida a partir de amostras de um paciente infectado pelo patógeno em 2015, no estado do Ceará. Após cultivado em laboratório, o vírus foi fusionado a uma nanopartícula e aquecido a 56ºC durante uma hora, para impedir que voltasse a causar infecções.
Os pesquisadores, então, colocaram as células PC-3 em contato com o vírus após 24 e 48 horas, para comparar com outro grupo de células tumorais não expostas ao zika. “Observamos um efeito citostático (inibição da reprodução celular) seletivo para as células PC-3. Na análise feita após 48 horas, a linhagem que ficou em contato com o vírus inativado apresentou crescimento 50% menor que a linhagem controle”, conta Jeany Delafiori, uma das autoras do estudo e aluna de doutorado da Unicamp, à agência de notícias Fapesp. A pesquisa contou com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).
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Para entender a razão dos efeitos benéficos, os cientistas analisaram o material com um espectrômetro de massa, tecnologia que permite separar elementos químicos em amostras biológicas de forma extremamente minuciosa. Com o método, identificaram 21 marcadores que ajudaram a descrever como o vírus afetou as células tumorais. “Encontramos, por exemplo, marcadores lipídicos envolvidos em condições de estresse e em processo de morte celular, como ceramidas e fosfatidiletanolaminas”, diz, também à agência Fapesp, Rodrigo Ramos Catharino, professor de ciências farmacêuticas da Unicamp.
Segundo o cientista, principal autor do estudo, os 21 metabólitos identificados poderão ser usados na busca por terapias para o tumor e também para entender melhor as alterações bioquímicas provocadas pelo zika. “O próximo passo da investigação envolve testes em animais. Caso os resultados sejam positivos, pretendemos buscar parcerias com empresas para viabilizar os ensaios clínicos”, adianta Rodrigo Ramos Catharino.
Morte celular
Os cientistas publicaram um estudo na revista especializada Journal of Mass Spectrometry, em janeiro de 2018, onde detalham experimentos em que infectaram, com células do zika vírus, uma série de células tumorais de glioblastoma. Por meio de imagens microscópicas registradas 24 e 48 horas após a infecção, a equipe observou efeitos de morte celular nas moléculas tumorais. Com base nos dados, os cientistas defendem que modificações no vírus podem ajudar a desenvolver terapias que ajudem a combater um dos tumores cerebrais mais comuns.
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