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Imagem: Pixabay

Por Stela Campos

Valor Econômico

 

O caso do professor e advogado italiano Giuseppe Conte, acusado de inflar o currículo com cursos nas universidade de Nova York e na Sorbonne e que, por isso, quase deixou de ser indicado para o cargo de primeiro-ministro na Itália, deixa algumas ideias para os futuros candidatos a emprego.

Primeiro, se você fez mesmo um curso bom, se organize, guarde o diploma em algum lugar, nem que seja na nuvem. Se ele é antigo demais para você saber onde foi parar, procure saber como poderá comprovar quando e como estudou antes que um inimigo o faça. Ter o currículo arrumado é como estar com o passaporte em dia. A gente nunca sabe quando vai aparecer uma viagem ou quando vai precisar arranjar um novo emprego.

Mentir no currículo não é algo exatamente novo. Há casos notórios como o do CEO da Lotus Corporation, Jeff Papows, que teve suas mentiras descobertas pelo "Wall Street Journal". Ele dizia que era PhD pela Universidade de Pepperdine e órfão, só que seus pais estavam vivos e saudáveis. É bom lembrar que existem especialistas que vivem de checar informações sobre as pessoas. Faz parte do "job description" dos recrutadores checar o passado do candidato, o que significa falar com os profissionais e chefes com as quais ele trabalhou e até bater os diplomas citados com as instituições de ensino. É normal que isso aconteça em processos mais estruturados.

Talvez os algoritmos não sejam ainda tão perspicazes ao ponto de flagrar uma mentira deslavada como uma invenção no currículo, mas se o candidato "esperto" passar em uma pré-seleção burlando as inteligências artificiais, pode contar que, mais à frente, um humano pode desvendar a falcatrua. Mentira tem perna curta e com um clique hoje é possível checar informações sobre todo mundo. Ninguém quer ser taxado de falsário. O futuro empregador pode descobrir e sua reputação vai por água abaixo. Em breve talvez seja possível apagar todos os nossos rastros virtuais, mas até que esse dia chegue para nós, simples mortais, é preciso cuidado.

Outro aspecto interessante no caso do italiano é a aparente necessidade de bombar o currículo com o nome de escolas de primeira linha para ganhar mais respeito e prestígio. Uma instituição renomada obviamente chama atenção na busca por alguns cargos específicos, principalmente em empresas mais tradicionais. O fato é que hoje, cada vez mais, as companhias que lutam contra o que chamam de "preconceitos inconscientes" em seus processos de seleção estão tentando desvincular dados pessoais do candidato como gênero, idade, estado civil e educação (o que inclui os diplomas) de suas realizações no trabalho.

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O chamado recrutamento às cegas, praticado em várias companhias americanas e que começa a chegar ao Brasil, se propõe a analisar as aptidões do candidato sem saber exatamente os cargos que ele ocupou, por quanto tempo e as escolas que frequentou. O interessado na vaga faz testes, conta histórias e, teoricamente, é escolhido pelo conhecimento e não por aspectos geralmente valorizados em um currículo tradicional. O que as empresas alegam é que isso pode ajudar a aumentar a diversidade nas contratações. Como o mundo não é perfeito, nem cor de rosa, alguns estudos mostram que em alguns casos o desequilíbrio entre gêneros, por exemplo, persiste mesmo nesses processos.

Mas apenas a ideia de que um crânio de uma universidade considerada de segunda linha pode disputar uma vaga com alguém que estudou em uma escola de grife no Brasil já é incrível. Algumas consultorias afirmam estar tentando garimpar talentos fora do circuito universitário tradicional. Então, mentir no currículo para incluir instituições bacanas, além de desonesto, pode não significar muita coisa nesse novo contexto que começa a surgir.

Quanto mais se fala em aprendizado para a vida toda, que vamos viver por mais tempo e ter que nos atualizar inúmeras vezes para acompanhar o ritmo alucinado das transformações digitais no trabalho, mais os profissionais correm atrás de conhecimento. Nessa busca vale tudo que seja útil, o que significa que sua qualificação não precisa vir necessariamente de Harvard. Curso rápido, on-line, de graça, meio presencial, meio a distância, o que importa é a agilidade para ir atrás do que vai ser preciso para se atualizar naquele momento da carreira. Tem que ser um tiro certeiro, ninguém pode perder tempo.

Então vem a pergunta: como mostrar para o mundo todo esse esforço? A nova onda é encher o currículo com os tais distintivos digitais ("digital badges"), certificados obtidos em cursos de curta duração, chamados também de nanocertificados, que enfeitam o currículo dos profissionais mais descolados. Turbinar seu perfil com esses selos parece bastante tentador, mas não caia na armadilha de fazer trezentos cursos só para poder pendurar mais deles, afinal você não está preenchendo o álbum de figurinhas da Copa. Se o curso não vai te ajudar, não faça.

Se sua formação vem de escolas mais tradicionais e você não tem esses distintivos coloridos, não tem problema. O que pode comprometer seu currículo é enchê-lo de bobagens. Os especialistas do LinkedIn, que reúne quase 30 milhões de perfis profissionais só no Brasil, terceiro maior mercado da rede social no mundo, dizem que o essencial é fugir dos chavões e informar o que fez nos lugares onde trabalhou. Privilegiar a experiência e as realizações citando exemplos. Ninguém quer ouvir de você que você é inovador, criativo ou estratégico.

Alguns truques facilitam o acesso dos recrutadores e dos algoritmos ao seu currículo. Uma dica é, quando colocar um cargo que ocupou, checar se o mercado usa essa nomenclatura, pois existem mil maneiras de chamar uma mesma função - por exemplo, diretor de pessoas, de gente ou de recursos humanos.

Existem milhares de modelos de currículos disponíveis na rede. Queime a pestana e monte um modelo que seja parecido com você. Se for mais reservado, conte o que fez e não enfeite muito. Se for criativo, enfeite, mas use o bom senso para não parecer ridículo. Um currículo bem construído pode se destacar, embora isso não signifique que ele vai garantir um emprego. O caminho até o holerite é longo e vai muito além dessa fase. A única coisa que não dá para fazer é mentir no currículo, porque isso é queimar o filme logo na largada.

 

Stela Campos é editora de Carreira do Valor Econômico

 

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Joni Mengaldo

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