Qual é o futuro do trabalho?

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O Great Reset envolve a expectativa de que governos, com seus instrumentos de políticas públicas, e agentes do mercado se articulem em parceria (Foto: Getty Images)

 

As atividades profissionais precisam ser saudáveis, justas e prósperas para gerar um futuro igualmente assim

 

by ABEL REIS* | Época Negócios

 

A reflexão sobre o trabalho do futuro (cientista de dados, psicólogo, cuidadores...?) vem dando lugar à urgência de (re)imaginarmos o futuro do trabalho. Como queremos e poderemos trabalhar, tendo vivido e aprendido tudo o que vivemos e aprendemos com a pandemia até agora?

 
Ao mesmo tempo em que acelerou a transformação digital, a Covid-19 escancarou e agravou questões como desigualdade social, saúde mental, desemprego e precarização do trabalho. Plataformas de comunicação, comércio eletrônico e delivery de serviços evoluíram tão rápido quanto o vírus, entre aqueles que não puderam se isolar porque batiam à nossa porta para entregar refeições - que les próprios não tinham (e não têm) acesso. Não é por outro motivo que a população negra e desfavorecida foi uma das mais atingidas (em casos e mortes) aqui, nos Estados Unidos e outros países conforme relatório de novembro de 2021, da insuspeita OCDE.
 

Diante desse cenário trágico e contraditório, o Fórum Econômico Mundial propôs um Great Reset (Grande Reinicialização). A ideia é repensar o trabalho a partir das lições da pandemia e rumo à indústria 4.0. Eis um exercício complexo, que passa por romper o paradigma de que produzir requer uma ética de sacrifício pessoal e familiar. A história (especialmente a pandemia e seus casos de burnout) aponta o contrário: as atividades profissionais precisam ser saudáveis, justas e prósperas para gerar um futuro igualmente assim. Não se colhem maçãs plantando batatas.

A valorização das capacidades intrinsecamente humanas é uma das grandes mudanças preconizadas pelo Great Reset. A aposta em recursos como criatividade, colaboração, empatia e flexibilidade cognitiva é imprescindível para balancear o impacto nos empregos causado pela Inteligência Artificial, robótica e outros avanços da automação industrial.

O que mais diferencia uma pessoa de uma máquina ou de um autômato? O repertório de vida extremamente diversificado e singular, composto por relacionamentos, memórias felizes ou não, estudos, carreira, lazer, hobbies, entre outras vivências acumuladas por anos a fio. Ser importante dentro do escritório, portanto, depende muito do que fazemos fora dele.

Compreender o ócio em sua plenitude, abandonando a identificação de trabalho com fardo e de tempo livre com desperdício, é central para viabilizar a Reinicialização (ou qualquer outra mudança parecida). Scholé, o termo grego para ócio, significava tempo livre e também estudo, aula, escola. Estudar e aprender ao longo de toda a existência nos torna mais empregáveis e adaptáveis à Quarta Revolução Industrial. A educação continuada não traz apenas sabedoria, mas uma carreira mais longeva, significativa e interessante. O aprendizado (em qualquer campo do conhecimento, acadêmico ou não) enriquece o repertório de vida. Assim nos tornamos seres mais atentos ao mundo que nos cerca e, portanto, humanos melhores.

O Great Reset envolve, ainda, a expectativa de que governos com seus instrumentos de políticas públicas, e agentes do mercado, se articulem em parceria, a exemplo do que fizeram e ainda fazem para enfrentar a pandemia e seus prejuízos sociais e econômicos. Uma transformação tão profunda no nosso modo de trabalhar, produzir e criar somente acontecerá se esforços coordenados dos setores público e privado forem implementados. Há muito trabalho pela frente!

 

*Abel Reis é palestrante, professor, consultor e autor do livro “Sociedade.com – como as tecnologias digitais afetam quem somos e como vivemos”

 

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