Em 2015, a única fábrica do grupo farmacêutico suíço Roche no Brasil, instalada em Jacarepaguá, Rio de Janeiro, celebrava um aporte de R$ 300 milhões destinado à modernização das instalações. “O Brasil é a afiliada que mais cresce entre os mercados emergentes. Este investimento reforça o nosso compromisso com a América Latina e está totalmente alinhado à nossa estratégia no País”, disse o presidente do Conselho de Administração do Grupo, Dr. Christoph Franz, durante o evento. Quatro anos depois, a estratégia da companhia parece ter mudado. Na segunda-feira 25, a Roche anunciou que vai fechar a fábrica e encerrar totalmente a produção de medicamentos no Brasil até 2024. A multinacional fabrica remédios por aqui desde 1931.
Em resposta aos questionamentos enviados pela DINHEIRO, a empresa diz que o fechamento da unidade está relacionado ao plano global de inovações da empresa e às transformações no portfólio de medicamentos. A ideia da farmacêutica é concentrar as apostas em produtos inovadores e de baixo volume de produção para tratamentos complexos. A Roche produz no País remédios como Bactrim, Rivotril e Lexotan, que são itens de baixa complexidade e alta tiragem. “Continuaremos trabalhando em parceria com governos, clientes e demais agentes da sociedade na incorporação de nossas inovações ao mercado brasileiro e geração de acesso à saúde”, disse, em nota, o presidente da Roche Farma Brasil, Patrick Eckert. Na prática, a companhia vai continuar atuando no Brasil com sua sede administrativa em São Paulo e o centro de distribuição em Goiás, mas só com a venda de produtos importados.
É um movimento que faz sentido para as empresas do setor. Há 20 anos, os medicamentos genéricos causaram uma revolução na indústria farmacêutica, levando algumas empresas a investir mais em áreas complexas, como câncer e diabetes. O problema é que o custo com pesquisas clínicas aumentou e o valor de desenvolvimento de um novo produto passou a custar mais de U$ 1 bilhão, segundo dados do Sindusfarma (Sindicato de Produtos Farmacêuticos). Resultado? A indústria entra em colapso e não consegue se desenvolver. “O Brasil tem a maior carga tributária para medicamentos do mundo”, diz Nelson Mussolini, presidente-executivo da Sindusfarma. O professor e economista Otto Nogami, do Instituto de Pesquisas Econômicas (Insper), concorda que isso tira a competitividade nacional no setor. “Fica muito mais barato produzir os remédios no exterior e depois importá-los para a distribuição no mercado interno.”
MAIS INCENTIVOS A preocupação dos especialistas é que o movimento seja seguido por outros laboratórios. A consequência seria desastrosa, já que o segmento gera cerca de 90 mil empregos diretos, 500 mil indiretos e movimenta mais de R$ 62,3 bilhões em vendas por ano. “Quando as indústrias deixam de produzir aqui, o governo também para de recolher impostos e o orçamento público fica comprometido”, afirma Nogami. “A operação só é viável no Brasil na medida em que o Estado oferece soluções competitivas.”
No caso da Roche, 440 pessoas que trabalham na fábrica de Jacarepaguá ficarão com os empregos comprometidos. A companhia, no entanto, diz que não haverá demissões em 2019 e que os colaboradores “receberão o melhor suporte possível” no período de transição.
Para Nelson Mussolini, há espaço para que as farmacêuticas cresçam no País, já que o aumento da expectativa de vida do brasileiro na última década tem elevado o consumo de produtos para saúde. Mas para que esse cenário se concretize, o governo precisa flexibilizar a regulação de preços para que as farmacêuticas aumentem a rentabilidade e consigam inovar. “Existem novas formas e tecnologias para trazer mais eficiência aos medicamentos, mas para isso é necessário ter mais incentivos”, diz Mussolini.
Fonte: Terra
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