Avanços na vacina contra a raiva

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A vacina antirrábica é uma das fórmulas protetivas mais conhecidas e uma das mais antigas. Há, porém, algumas limitações, como o alto custo e o fato de os efeitos esperados nem sempre serem imediatos. Em um estudo  publicado na revista especializada PLOS Neglected Tropical Diseases, cientistas americanos apresentam uma fórmula que não tem esses empecilhos. Segundo eles, o aperfeiçoamento se deu graças ao uso da proteína BAFF, que potencializa a ação de anticorpos no corpo.

A vacina antirrábica existente funciona ativando células B do sistema imunológico. No entanto, pode levar tempo para que ocorra essa interação. “Estratégias destinadas a aumentar a velocidade, a magnitude e a longevidade de vacinas são algo que sempre é buscado na área de pesquisa. Esse foi o foco da nossa”, destacam, em comunicado, os autores, que foram liderados por Joseph Plummer, pesquisador da Universidade Thomas Jefferson.

Em busca de uma vacina mais eficaz para raiva, os pesquisadores escolheram uma proteína de sinalização conhecida como fator de ativação de células B (BAFF), que se liga diretamente às células B. Eles projetaram uma vacina contra a raiva que incluía um vírus da raiva atenuado e BAFF na mesma partícula e testaram a nova fórmula em ratos. “Uma estratégia para melhorar a imunidade da vacina é direcionar o antígeno para as células do sistema imunológico. Com essa junção com o BAFF, imaginamos que a resposta do sistema imune poderia ser maior”, detalham os autores do estudo.

A estratégia dos cientistas rendeu os resultados esperados. Ratos imunizados com a nova fórmula mostraram resposta mais rápida e mais forte do sistema imunológico, quando comparados às cobaias que receberam a vacina tradicional contra a raiva. “Essa nova estratégia  aumentou significativamente a velocidade e a magnitude das respostas de anticorpos antirraiva e tem o potencial de melhorar a eficácia de outras vacinas que usam vírus inativados”, afirmam os autores.

Outras doenças

Os investigadores americanos destacam, no artigo, que mais de 59 mil pessoas no mundo morrem de raiva. Segundo eles, os custos da imunização são um dos fatores que dificultam a proteção, principalmente de comunidades mais carentes. A aposta é de que a fórmula com BAFF consiga mudar esse cenário. “Queremos uma opção mais efetiva para ajudar grupos vulneráveis. Esse tipo de vacinação é reservado para pessoas em risco de infecção, como indivíduos que trabalham em laboratórios de diagnóstico ou pesquisa, veterinários e manipuladores profissionais de animais. A Organização Mundial da Saúde também recomenda que crianças com até 15 anos que vivem em áreas endêmicas recebam essa vacina pré-exposição”, destacam.

A equipe frisa que são necessários estudos adicionais sobre a segurança da vacina antes de testá-la em humanos e que há a possibilidade de o método desenvolvido render outros frutos na área médica. “A incorporação de adjuvantes moleculares, como o BAFF, tem potencial para melhorar a eficácia de vacinas contra uma ampla gama de doenças infecciosas (…) Acreditamos também que um aprimoramento dessa vacina antirrábica pode nos ajudar a desenvolver estratégias de imunização para outras doenças infecciosas”, ressaltaram os autores do trabalho.

Ana Karolina Barrato Marinho, coordenadora do Departamento Científico de Imunização da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (ASBAI), acredita que os resultados podem ajudar a sanar uma necessidade médica:  a de fórmulas mais eficazes e que possam ser usadas em um número maior de pessoas. “Temos vacinas que são feitas com o vírus vivo, mas elas não podem ser aplicadas em indivíduos que têm problemas no sistema imune, pois eles podem ter reações. A vantagem dessa nova fórmula é que ela tem uma eficácia alta e  pode servir a todos, por usar o vírus inativado, algo muito positivo”, explica.

A médica avalia que uma nova opção para vacina antirrábica é algo muito bem-vindo. “A mortalidade relacionada à raiva é bem alta, como esses pesquisadores ressaltam no trabalho. E a maioria das mortes é de crianças que estão mais expostas a animais. Ter uma vacina mais eficaz e potente pode ajudar bastante a diminuir essa taxa”, frisa. “É claro que esse estudo ainda é muito inicial, mais testes precisam ser feitos. Mas, caso os resultados positivos sejam vistos nos desdobramentos do estudo, será muito útil ter uma vacina com mais segurança e eficácia para proteger a população da raiva.”

Adaptações
No ano de 1880, o cientista francês Luis Pasteur deu início aos seus estudos sobre a raiva. Após cinco anos de dedicação, ele aplicou, pela primeira vez, a vacina antirrábica em um ser humano. Com o passar do tempo, a fórmula foi apenas adaptada por especialistas. O desenvolvimento dessa imunização é considerado o primeiro grande resultado da microbiologia aplicada à medicina e faz Pasteur ser reconhecido, até hoje, como um dos maiores cientistas da área médica.

“A mortalidade relacionada à raiva é bem alta (…) E a maioria das mortes é de crianças que estão mais expostas a animais. Ter uma vacina mais eficaz e potente pode ajudar bastante a diminuir essa taxa”

Ana Karolina Barrato Marinho, coordenadora do Departamento Científico de Imunização da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia

Para saber mais

Passado mitológico

Durante muitos séculos, a raiva foi a única doença visivelmente transmitida por animais. Ela sempre é contraída por meio da mordida do mamífero infectado, cachorros e morcegos, principalmente. Ao entrar em contato com o organismo humano, esse vírus engana o sistema de defesa do corpo, se espalha e chega rapidamente ao cérebro, antes de as defesas serem acionadas. Dores pelo corpo, febre, convulsões e uma extrema aversão à água (hidrofobia), além da espuma pela boca, estão entre os sintomas da doença. Antes de ser tratada e bem compreendida, escritores a relacionavam a seres mitológicos, como vampiros e lobisomens.

Fonte: Correio Braziliense

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