Investidores que se guiam pelas chamadas ‘teses seculares’ alocam capital de acordo com expectativas em temas como carros elétricos, IA e cuidados com a saúde, como perda de peso
A inovação em medicamentos para perda de peso desbancou as fabricantes de carros elétricos como algumas das ações mais desejadas por investidores, ao menos até o momento.
A perda de US$ 85 bilhões em valor de mercado da Tesla (TSLA), de Elon Musk, nos últimos dias, exacerbada pela ansiedade de investidores em relação ao crescimento em desaceleração, levou o valor de mercado da farmacêutuca Eli Lilly a ultrapassar o da montadora de carros na quinta-feira (25). Informou a Bloomberg.
O fato de que a Lilly (LLY) ultrapassou a Tesla em market cap sinaliza uma mudança no apetite por ora dos investidores. A preferência já não é pelas fabricantes de veículos elétricos e seus fornecedores com a promessa de adoção em massa. Em vez disso, tudo relacionado à perda de peso está em alta.
A americana Lilly disparou com a esperança de explosão de demanda por seus medicamentos Mounjaro e Zepbound, o que a tornou a maior empresa de saúde do mundo em valor de mercado.
Esperanças semelhantes - e correspondidas, deve-se dizer - em medicamentos da Novo Nordisk impulsionaram a empresa dinamarquesa ao topo na Europa, onde é a empresa listada mais valiosa.
“Os mercados tendem a favorecer grandes tendências gerais e certamente uma delas em certo momento foi veículos elétricos e tudo relacionado à Tesla”, disse Steve Sosnick, estrategista-chefe da Interactive Brokers. “Agora, as tendências que estão realmente cativando os investidores são inteligência artificial e medicamentos para perda de peso do tipo GLP1.”
A Tesla, que já foi a quinta maior empresa no índice S&P 500, agora perde terreno para a Lilly e a Broadcom, enquanto luta para permanecer entre as 10 maiores.
Medicamentos para perda de peso do tipo GLP1
GLP1 é a sigla para glucagon-like peptide-1, um hormônio produzido pelo intestino que ajuda a regular o açúcar no sangue e o apetite. Quando injetado no corpo, ele estimula a liberação de insulina pelo pâncreas e reduz a produção de glucagon pelo fígado. Isso leva a uma diminuição da fome e do consumo de calorias, resultando em perda de peso.
Os medicamentos para perda de peso do tipo GLP1 são uma classe de fármacos que imitam ou aumentam os efeitos do GLP1 natural. Eles são usados principalmente para tratar pacientes com diabetes tipo 2, mas também mostraram benefícios para pessoas com obesidade ou sobrepeso sem diabetes.
A obesidade é um problema de saúde pública que afeta milhões de pessoas em todo o mundo. Ela está associada a um maior risco de doenças cardiovasculares, diabetes, câncer e outras complicações. Além disso, ela tem um impacto negativo na qualidade de vida e na autoestima dos indivíduos.
Apesar disso, as opções de tratamento para a obesidade são limitadas e muitas vezes ineficazes. As intervenções comportamentais, como dieta e exercício, exigem disciplina e motivação, e nem sempre produzem resultados duradouros. As cirurgias bariátricas, como o bypass gástrico ou a banda gástrica, são invasivas e caras, e podem causar efeitos colaterais graves.
Os medicamentos para perda de peso do tipo GLP1 oferecem uma alternativa mais segura e eficaz para os pacientes que sofrem com a obesidade. Eles atuam diretamente no cérebro, reduzindo o apetite e aumentando a saciedade. Eles também melhoram o metabolismo da glicose e dos lipídios, prevenindo ou revertendo o diabetes tipo 2. Eles têm um perfil de segurança favorável, com poucos efeitos adversos, como náusea, vômito e diarreia.
Além disso, eles têm um potencial de mercado enorme, considerando que cerca de 40% da população adulta nos EUA é obesa e que apenas uma pequena fração recebe tratamento farmacológico. Estima-se que o mercado global de medicamentos para perda de peso do tipo GLP1 possa atingir US$ 20 bilhões até 2025.
As empresas que lideram o desenvolvimento e a comercialização desses medicamentos são a Eli Lilly e a Novo Nordisk. Ambas têm uma forte presença no mercado de diabetes e uma ampla experiência em pesquisa e desenvolvimento na área de endocrinologia.
A Eli Lilly tem a vantagem de ter dois candidatos promissores em sua pipeline: o Mounjaro e o Zepbound. O primeiro está em fase final de testes clínicos e deve ser submetido à aprovação regulatória em 2024. O segundo já foi aprovado pela FDA em junho de 2021 para uso em adultos com obesidade ou sobrepeso com pelo menos uma condição relacionada ao peso, como hipertensão ou apneia do sono.
A Novo Nordisk tem a vantagem de ter o primeiro medicamento para perda de peso do tipo GLP1 no mercado: o Saxenda. Ele já está disponível em mais de 60 países e tem uma participação de mercado dominante. A empresa também tem o Ozempic, que é usado principalmente para tratar o diabetes tipo 2, mas que também pode ser prescrito off-label para perda de peso.
As duas empresas têm apresentado um crescimento expressivo em suas receitas e lucros nos últimos trimestres, impulsionadas pela demanda por seus medicamentos para perda de peso. Elas também têm investido em marketing e educação médica para aumentar a conscientização e a aceitação desses produtos entre os profissionais de saúde e os pacientes.
As ações da Eli Lilly subiram mais de 50% nos últimos 12 meses, enquanto as da Novo Nordisk subiram mais de 40%. Ambas as empresas têm uma avaliação elevada, com múltiplos de lucro acima da média do setor farmacêutico. No entanto, elas também têm um potencial de crescimento significativo, considerando o tamanho do mercado endereçável e a vantagem competitiva que possuem.
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