Verubecestate, droga anteriormente testada para Azlheimer, pode ser promessa para tratar câncer cerebral agressivo
by Amanda Serrano* | Estado de Minas
Os cânceres no sistema nervoso central, que incluem as áreas do cérebro e da medula espinhal, ainda são alvos de muitos estudos com relação a suas causas. Por esse motivo, até esse momento não existem medidas para prevenir esse tipo de câncer. Mas recentemente, muitos pesquisadores debruçam-se sobre o tema com o objetivo de encontrar um meio de melhorar o tratamento.
A novidade é uma pesquisa da New Cleveland Clinic, publicada no começo de novembro na “Nature Cancer”, que descobriu que medicamentos originalmente projetados para ajudar a tratar a doença de Alzheimer podem ser promissores para o glioblastoma, o tipo mais comum e letal de tumor cerebral primário.
“Uma classe de medicamentos chamados inibidores BACE1 já estiveram entre os candidatos mais esperados para o tratamento da doença de Alzheimer. Eles agem inibindo a proteína, chamada BACE1, que é responsável pela produção de placas β-amilóides no cérebro, que são uma das principais marcas da doença de Alzheimer. Depois de demonstrar baixa eficácia em ensaios clínicos, no entanto, o campo da neurociência se afastou dos inibidores de BACE1”, explica Gabriel Novaes de Rezende Batistella, médico neurologista e neuro-oncologista, membro da Society for Neuro-Oncology Latin America (SNOLA).
O profissional conta que, no entanto, curiosamente BACE1 também é expresso em uma classe de células imunes – chamadas de macrófagos associados a tumor (TAMs) – que são encontradas no microambiente tumoral, ou nos componentes de células não cancerosas de tumores sólidos. Macrófagos associados a tumores são particularmente abundantes no glioblastoma, o que levou os pesquisadores a se perguntarem se os inibidores de BACE1 podem ser eficazes no tratamento ou prevenção da forma altamente agressiva de câncer no cérebro.
Eepresentante brasileiro do International Outreach Committee da Society for Neuro-Oncology (IOC-SNO), Gabriel explica que existem dois tipos principais de TAMs. “Em palavras mais simples, existem soldados que ajudam a replicar um tumor e soldados que agem para eliminar o câncer. A maioria dos TAMs promove tumores e contribui para a resistência ao tratamento, mas há alguns que suprimem o tumor. Desenvolver uma terapêutica que manipule esse equilíbrio – inclinando a balança para que haja mais TAMs supressores de tumor – pode tratar melhor o glioblastoma.”.
No estudo, os pesquisadores rastrearam uma ampla gama de compostos para identificar os candidatos mais promissores contra macrófagos promotores de tumor (pTAMs), revelando um inibidor que foi chamado de MK-8931 (verubecestate). “Eles descobriram que o tratamento de modelos pré-clínicos derivados de humanos de glioblastoma com verubecestate reprogramou os promotores de tumor em macrófagos supressores de tumor. Ou seja, como resultado, os ‘soldados’ supressores estiveram mais abundantes e ajudaram a destruir as células tumorais, incluindo as células-tronco de glioma, que são um tipo particularmente agressivo de células cancerosas que podem se autorrenovar e repovoar um tumor”, esclarece o médico. O estudo descobriu que essas mudanças reduziram significativamente o crescimento do tumor.
Os benefícios foram ainda mais pronunciados quando o verubecestate foi administrado em combinação com radiação de baixa dose, uma vez que aumenta a infiltração de supressores no tumor. Para o especialista, mais pesquisas serão necessárias, mas esse estudo sugere que a capacidade do verubecestate de transformar soldados promotores de tumor em soldados de supressão pode estar relacionada à atividade de três moléculas. Essas moléculas, junto com BACE1 – que é mais abundantemente expresso em promotores de tumor do que supressores – formam uma cascata de sinalização que, em última análise, ajuda a manter as propriedades pró-câncer dos promotores. A inibição de BACE1, como com verubecestate, interrompe essa via de sinalização.
O verubecestate já foi aprovado para uso em humanos por causa de seus testes anteriores para a doença de Alzheimer, o que ajudaria a acelerar a tradução dos achados pré-clínicos promissores. “Este é um grande benefício do reaproveitamento de medicamentos – ser capaz de preencher a lacuna entre a pesquisa pré-clínica e os testes clínicos, o que muitas vezes pode ser um processo demorado. De qualquer maneira, aguardamos mais estudos para confirmar esses achados”, finaliza o médico.
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