Valor Econômico
Fonte: Agência Dow Jones
20/04/2020 – 12h48 - A 40º conferência anual de saúde da corretora Cowen, realizada em Boston no mês passado, foi provavelmente um dos últimos grandes eventos de Wall Street antes da pandemia. Mais de 2 mil pessoas ouviram executivos do setor farmacêutico falando bem das ações de suas empresas. Nas semanas que se seguiram, o país se fechou, e as ações das farmacêuticas afundaram com o restante mercado.
Contudo, o setor farmacêutico pode ser um dos melhores refúgios enquanto a pandemia de covid-19 devasta a economia, tendo em conta o seu foco em novos produtos, a perspectiva de vendas promissora e a baixa relação preço/lucro. Os tratamentos das grandes farmacêuticas para o câncer e outras doenças potencialmente fatais são essenciais por definição. E agora a esperança é que o setor desenvolva as vacinas que permitirão que as pessoas possam se encontrar de novo.
Depois de ficarem para trás em relação ao mercado em 2019, ações de empresas como Merck, Pfizer e Eli Lilly tiveram um desempenho superior ao do S&P 500 desde que a crise do coronavírus começou. Muitas das ações de crescimento do setor, contudo, negociam com múltiplos de lucros abaixo dos do mercado.
Não quer dizer que a indústria farmacêutica vai escapar incólume à pandemia. Com milhões de desempregados, o analista Randall Stanicky, da RBC Capital Markets, espera uma mudança significativa de planos de saúde privados para programas estatais como o Medicaid, que paga menos pelos remédios. Os Estados são já os maiores compradores em grande parte do mundo e os orçamentos vão ser esmagados por toda a parte por causa dos programas de ajuda da covid-19.
O crescimento do setor será contido, receia Stanicky, se o recrutamento para ensaios clínicos de novos medicamentos for afetado. Com as conferências médicas canceladas e os promotores de venda presos em casa, o lançamento de novos produtos será adiado.
Pfizer
Stanicky destaca que um dos nomes defensivos que aprecia é a Pfizer, que está em processo de venda dos produtos da divisão Upjohn para a Mylan. Depois, apenas cerca de 20% do portfólio global da Pfizer estará exposto aos concorrentes dos EUA, diz o analista. Este portfólio inclui a vacina Prevnar e o remédio oncológico Ibrance, dois produtos muito vendidos.
Stanicky acredita que as ações da Pfizer podem subir de US$ 35 para $44.
Merck
O analista da Morgan Stanley David Risinger gosta da Merck. As sólidas perspectivas de crescimento parecem subvalorizadas, acredita. Se for colocado um múltiplo de 30 vezes o lucro com vacinas como a Pneumovax e a Gardasil e um múltiplo de 25 vezes no lucro da divisão veterinária, isto implica um múltiplo de lucros de dígito único para a unidade de medicamentos da Merck.
Essa unidade inclui o Keytruda — uma imunoterapia que é o segundo remédio do mundo depois do Humira, da AbbVie — e o remédio para a diabetes Januvia. Risinger diz que as ações da Merck, em torno dos US$ 83, podem alcançar os US$ 89.
AstraZeneca
Na Cowen, o analista Steve Scala tem como ação preferida a AstraZeneca. A empresa tem o que o analista procura em todas as suas recomendações de compra: um desenvolvimento de produtos relevante o suficiente para conseguir preços elevados e impulsionar os lucros da farmacêutica. O tratamento para câncer Tagrisso é um desses produtos, diz Scala.
Novartis
A Novartis é outra das ações favoritas de Scala. A farmacêutica tem fortes presença em tratamentos para a psoríase e para problemas cardíacos, juntamente com uma série de produtos oncológicos. A Cowen subiu recentemente o preço-alvo dos ADR da Novartis, que negociam perto de US$ 87, para $110.
Roche
A Roche Holding é uma das recomendações antigas de Scala. Os pesquisadores da unidade Genentech produziram os remédios oncológicos muito vendidos Avastin, Rituxan e Herceptin. Scala espera que novas aprovações surjam depois de dados sobre tratamentos da Roche para câncer dos rins, pulmões, mama e útero. O analista não prevê qualquer interrupção no crescimento das vendas e lucros, e espera que os ADR da Roche passem de US$ 42 para US$ 50.
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